segunda-feira, 21 de março de 2016

Audições Brasileiras #12 recebe Armando Lôbo

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Recife Antigo, op. 20

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Recife Antigo, op. 20, para conjunto de percussão e orquestra de câmara, é minha obra mais ousada até aqui - não só no aparato instrumental, mas também na estruturação. Sob certa medida, quero dizer, sob um olhar mais superficial, seria possível dizer que Recife Antigo se trata de uma miniópera contemporânea, sem o requisito de cantores líricos ou coral. No entanto, rejeito essa classificação. O desenrolar da narrativa, muito mais do que da ópera, deve sua fluidez ao conceito da música-teatro dos anos 1960, no qual o argumento conduz diretamente os atos musicais, sem necessidade de partitura, com a diferença, aqui, de que a esquematização mostrada nas imagens abaixo (no que eu chamo de grade-mestra) é preenchida por subgrades e sub-roteiros a cargo do maestro e dos instrumentistas pertinentes. Outros elementos conceituais da música de vanguarda presentes, pode-se notar, são o semi-aleatorismo, o texturalismo e o happening, além de minha própria contribuição em trabalhar a narrativa em três planos espaço-temporais (motivada pela análise da trilha sonora nos filmes de Sergio Leone, feita por Rodrigo Carrero, e pela dissociação das naturezas espiritual e física do protagonista da ópera Marco Polo, de Tan Dun). Mesmo assim, com todas essas referências, a maior parte da peça é tonal ou modal, cheia de melodias para se sair cantarolando - isso ameniza a complexidade das ideias musicais envolvidas. Por fim, para se entender a grade-mestra, tenha-se em mente que: diegese se refere à ação dramática; extradiegese, ao que está fora da ação mas direcionada a ela; e supradiegese, ao que está além da ação, alheio a ela (supradiegese é você comendo pipoca quando assiste a um filme). Como esses três planos transitam e se confunde é a graça da peça (ou a dor de cabeça dela).


O desenrolar da obra se dá em tempo real, a partir do trajeto imaginado (e conferido após uma das minhas várias pedaladas pelo bairro em dias de folga):

Numa tarde de domingo, no Recife Antigo, um hipotético cidadão qualquer começa a fazer um périplo a partir da praça do Arsenal, após terminar de ver um acerto de bloco de frevo, e segue pela rua do Bom Jesus, testemunhando uma celebração em frente à Sinagoga Kahar Zur Israel, até dobrar ao lado da Caixa Cultural e chegar ao Marco Zero, onde o movimento Ocupe Estelita faz mais uma manifestação vindo pela avenida Alfredo Lisboa, sob insatisfação de muitos dos que transitam pelo local. Ao pegar a rua da Moeda e passar pela esquina da Mariz e Barros, Jomard Muniz de Brito profere – diante da estátua de Chico Science – mais um de seus “atentados poéticos”. O observador começa a imaginar o caos urbano que lhe ocorre todos os dias ao ir para o trabalho, de metrô. Ele continua a caminhada e dobra à direita na rua da Madre de Deus, na qual uma procissão carmelita está de passagem e canta uma ladainha um tanto inusitada. Na esquina dos Correios, um dos maracatus que ensaiam pelas ruelas do entorno se concentra e vai em direção à avenida Barão do Rio Branco, atualmente fechada ao trânsito de veículos. Mas há quem queira passar à força... Alguém cujo trajeto às vezes coincide com o do cidadão também estará aí nesta hora. É dia de Clássico das Multidões. Os ânimos de alguns se excedem.

***

A instrumentação é a seguinte:

Orquestra
- Cordas
- Madeiras (a um ou a dois) → Flauta, oboé, clarineta e fagote
- Metais → Duas trompas, trompete, trombone baixo (Clarineta, trompas e trompete em dó... ou não)

Frevo de bloco
- Glockenspiel
- Xilofone
- Vibrafone
- Marimba
- Apito
- Ganzá
- Pandeiro

Avraham Avinu (Cuando el rey Nimrod)
- Marimba (novamente)
- Atabaques
- Castanholas
- Atabaques

Ladainha
- Carrilhão de sinos

Maracatu
- Apito (novamente)
- Agogô de duas campanas
- Mineiro ou ganzá
- Dois taróis ou caixas
- Duas alfaias marcação
- Duas alfaias meião
- Duas alfaias repique
- Três buzinas (lá3, sib3, dó4) – opcionais

Protesto Ocupe Estelita
- Matracas
- Dois chicotes
- Pisadas de sapatos
- Três buzinas (novamente)
- Bigorna e martelo
- Pau de chuva
- Megafone – opcional

Outros instrumentos requeridos
- Três tímpanos (lá1, dó2, mi2)
- Bombo
- Gongo
- Triângulo
- Flauta de êmbolo – opcional

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sexta-feira, 18 de março de 2016

Nova casa: Orquestra Criança Cidadã


Como alguns já devem saber, agora estou ao lado de uma grande orquestra, fruto de um grande projeto musical, nascido no Recife, que literalmente vi nascer: a Orquestra Criança Cidadã, ainda conhecida pelo nome de batismo de Orquestra dos Meninos do Coque.

Após passar pelo processo seletivo aberto pela OCC, assumi a assessoria de comunicação e imprensa da OCC no último dia 10 com o desafio de potencializar a projeção de imagem dos "Meninos do Coque" no ano em que completam uma década de existência.

Por isso, a expectativa é de muito trabalho e muita responsabilidade, mas as atuais integrantes da equipe são bem participativas: Devanise Mendes (assistente de comunicação na sede), Tamíz Freitas (assistente de comunicação do Núcleo Ipojuca) e Aline (assistente de design).

A primeira mobilização acontecerá em breve: o lançamento do DVD da OCC com a violinista japonesa Yoko Kubo, gravado em Roma, em novembro de 2015. O álbum, com os concertos para violino de Bach (BWV 1041 a 1043) está de primeira, e metade da tiragem de 10 mil exemplares será doada para as obras de benemerência do Vaticano.

No mais, obrigado a todos pelas palavras de incentivo.

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